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Nasci (no hospital, é óbvio, mas...) e cresci no bairro Salgado Filho, na região oeste de Belo Horizonte. Atualmente tenho 33 anos, mas posso afirmar que naquela época, nos anos 80, o meu bairro e até mesmo a cidade era muito diferente. Isso me confere algumas amarguras e alguns privilégios.
Dado a localização em que cresci, muito próximo ao ribeirão Arrudas, tenho uma relação diferenciada com o mesmo. Eu tive o desprazer de ver o rio em condições muito piores do que vemos hoje. Ao fazer essa afirmação tenho certeza que alguns colegas me olharão com espanto pois as condições atuais são deploráveis, mas eu presenciei o rio sendo usado como bota fora de entulho, móveis velhos, animais mortos e muito esgoto correndo a céu aberto em suas margens antes de encontrar a calha do ribeirão de fato. Condições propícias para se encontrar com animais peçonhentos e vetores de doenças, além das moradias muito precárias das pessoas que eram obrigadas a se sujeitar a essas condições insalubres. Não acreditava nos relatos do meu pai que afirmava que conheceu várias pessoas que chegaram no bairro dez anos antes dele, que nadavam e pescavam no Arrudas. Achava pura história de pescador. Diante dos fatos apresentados e da imaturidade de uma criança de sete anos, eu não gostava do rio. Ele representava mau cheiro e impecílio ao deslocamento para o bairro vizinho.
Ao crescer um pouco mais, por volta dos 10 anos de idade, essa relação começou a mudar. As ruas do bairro já começavam a ficar muito movimentadas para jogar bola e andar de bicicleta, então as ruas sem saída próximas ao rio eram ideais para a molecada fazer suas molequices. Comecei a entender que o rio era necessário para conduzir os dejetos que eu fazia no banheiro da minha casa, e mesmo sem ter a mínima noção de consciência ecológica, passei a respeitar e admirar o rio, e de alguma forma gostaria de vê-lo melhor.
Quando eu tinha por volta dos 13 anos de idade eu presenciei as obras de canalização do ribeirão Arrudas e a sua mudança de identidade. Agora ele passaria a se chamar Av. Teresa Cristina, um corredor de veículos. Acatei a mudança com boa receptividade. Seria uma forma de deslocamento mais rápido, na porta da minha casa passavam 9 linhas de ônibus que faziam muito barulho, então existia a possibilidade de redução do barulho e naquele momento achei que as mudanças trouxeram um pouco mais de dignidade para o rio e para a população de seu entorno. Cessaram os bota fora irregulares e os esgotos foram canalizados. Agora a água não ficava mais empossada e corria com mais velocidade, o que reduziu o mal cheiro. Mas essa velocidade trouxe problemas na primeira chuva forte. O canal não suportava a quantidade de água e os transbordamentos se tornaram frequentes. Os problemas foram se tornando menos frequentes através das intervenções feitas pela administração municipal ao longo dos anos subsequentes com a construção de barragens de contenções no bairro Bonsucesso e Olaria.
Atualmente, depois de alguns anos e algumas mudanças de bairro e de cidade, voltei a morar próximo ao Arrudas novamente, mais amadurecido e com uma visão mais crítica de diversos fatores, me pergunto: porque a copasa, empresa responsável pela distribuição e tratamento de água e esgoto paga de imposto ao governo anualmente algo em torno de R$ 150 milhões e obtém lucro líquido de 500 milhões sendo que tem muito a ser feito ainda em infraestrutura, tratamento de esgoto e recuperação de mananciais? Não sou contra a empresa dar lucro, muito pelo contrário, mas acho que primeiro deve ser feito o dever de casa, e nesse caso, muito bem feito.
Mas saindo do viés politico e voltando ao pessoal, enfrento alguns conflitos no condomínio onde moro. Ao me mudar a aproximadamente 3 anos atrás, fiz a revisão elétrica e hidráulica do meu apartamento mas não me conformei com o sistema usado para descarga do vaso sanitário.
São utilizados aproximadamente 30 litros de água por vez se o sistema estiver bem regulado. Logo na primeira reunião resolvi apresentar uma proposta: substituir o sistema em todos apartamentos. A mudança aprovada em maioria simples resultaria em uma economia brutal. A conta é simples: somos 264 apartamentos com uma taxa de ocupação de 90%, ou seja, 237 apartamentos ocupados com média de 3 pessoas em cada um. Se cada pessoa utilizar apenas duas descargas por dia, uma pela manhã e outra a noite, o que é uma previsão muito otimista, são 42660 descargas por mês, gerando um gasto de 1.279.800 litros de água. Substituindo o sistema essa mesma conta gera um consumo final de 255.960 litros de água resultando em uma economia de 80%. A tarifa de água custa para o condomínio atualmente R$ 30.000,00 e se for reduzida em 80% gera uma economia de R$ 24.000,00 mensais. As obras foram orçadas em R$ 132.000,00 total, R$ 500,00 por unidade entre material e mão de obra, ou seja, em 6 meses a economia na conta cobre os custos da obra e passaremos a fazer caixa para novas reformas pois a taxa de condomínio não precisa ser alterada por já estar em um patamar acessível.
Resultado da assembleia. A maioria não quer reformas pois causam transtornos e sujeira, ao invés disso, devemos fazer um poço artesiano pois nosso terreno aflora água nas épocas das chuvas e temos a certeza que vamos perfurar e encontrar água.
Depois de passados dois anos com o pedido de outorga em andamento e sem nenhuma resposta, resolvi levar o assunto para a pauta novamente, mas a decisão da reunião que aconteceu a 6 meses atrás foi: devemos reformar as fachadas para valorizar nossos imóveis a um custo de R$ 280.000,00.
P*** que P**** esses meus vizinhos, se não for pela economia de água que seja pela economia financeira que tem o poder de bancar as reformas vindouras sem alterar a taxa do condomínio. Parece que somente alguns poucos sabem fazer essa conta complexa. Estou indignado mas ainda não desisti da luta. Faço minha parte mas é bem menos do que gostaria.
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